sexta-feira, 19 de julho de 2013

A Skin Too Few


Mesmo sendo considerado um gênio, Nick fracassou. O jovem tímido, culto, elegante e virtuoso ao violão teve que deixar o apartamento que dividia com a irmã em Londres e voltar à casa dos pais em  Warwickshire (Inglaterra) por falta de dinheiro. Lá, entregue à depressão, tomou um monte de comprimidos, foi dormir e nunca mais acordou. Começando a história pelo fim, este texto existe pra recomendar o documentário A Skin Too Few, que conta um pouco sobre a breve trajetória do músico Nick Drake.

A partir de depoimentos dos amigos e familiares, principalmente da irmã Gabrielle Drake, A Skin Too Few sintetiza com muita competência a vida de Nick. Imagens raras da infância, entrevistas com os pais e pessoas que trabalharam e estudaram com ele dão forma ao filme.
Sabe-se que o músico era muito introvertido, mas o que impressiona é saber que Nick não se abria mesmo com amigos íntimos e a própria irmã. "Era difícil saber o que ele estava pensando ou sentido" conta Gabrielle.

Nascido na antiga Birmânia em 1948 Nick foi ainda criança para a Inglaterra com os pais. Frequentou boas escolas e estudou Literatura Inglesa na Universidade de Cambridge por um tempo. "Havia um certo ar de superioridade do nosso lado em relação a outros estudantes que vinham para a aula em suas bicicletas. Gostávamos de levantar tarde, fumar maconha e nós não íamos às aulas", lembra o colega de faculdade Briam Wells. Quanto ao som, Nick fazia uma mistura de folk e blues, mas sempre com um jeito de tocar violão quase erudito ou clássico. O musico  Paul Weller  aparece no documentário e tem uma definição melhor que a minha: "Conheci a música de Nick Drake bastante tarde, e ele tem algo mágico, você sabe. Há misticismo, digo místico sobre Nick Drake, porque ele gravou apenas três álbuns. E não é muito conhecido, não há nenhum filme, poucas palavras gravadas".

Certo dia, em 1971, Nick estava cansado da falta de sucesso, da falta de dinheiro, da falação da plateia no que bar em que tocava, quando disse: "chega, eu vou embora". Nunca mais foi visto em público. Em 1974 Gabrielle recebeu a notícia da morte dele e diz "eu sabia. Em um nível, eu não sabia de nada, mas em nível mais profundo, eu sabia". O garoto sensível de um metro e noventa decidiu sair da vida em se tornar uma lenda quando tinha apenas 26 anos de idade. Bom, este texto não existe pra contar toda a história de Nick Drake, mas se este texto existe em pleno ano de 2013 significa que o jovem tímido, culto, elegante e virtuoso ao violão teve que deixar Londres e voltar à casa dos pais em por falta de dinheiro, venceu.

Veja o documentário num domingo à tarde, sem pressa ou distrações. E o mais importante: de coração aberto. 



segunda-feira, 15 de julho de 2013

Brasil: descrição física e política por Millôr Fernandes

       (1923-2012)
 
 O Brasil é um país maior do que os menores e menor do que os maiores. É um país grande porque, medida sua extensão, verifica-se que não é pequeno. Divide-se em três zonas climáticas absolutamente distintas: a primeira, a segunda e a terceira, sendo que a segunda fica entre a primeira e a terceira. As montanhas são consideravelmente mais altas que as planícies, estando sempre acima do nível do mar. Há muitas diferenças entre as várias regiões geográficas do país, mas a mais importante é a principal. Na agricultura faz-se exclusivamente o cultivo de produtos vegetais, enquanto a pecuária especializou-se na criação de gado. A população é toda baseada no elemento humano, sendo que as pessoas não nascidas no país são, sem exceção, estrangeiras. Na indústria fabricam-se produtos industriais, sobretudo iguais e semelhantes, sem deixar-se de lado os diferentes. No campo da exploração dos minérios, o país tem uma posição só inferior aos que lhe estão acima, sendo, porém, muito maior produtor do que todos os países que não atingiram o seu nível. Pode-se dizer que, excetuando seus concorrentes, é o único produtor de minérios no mundo inteiro. Tão privilegiada é hoje a situação do país, que os cientistas procuram apenas descobrir o que não está descoberto, deixando para a indústria tudo que já foi aprovado como industrializável, e para o comércio tudo o que é vendável. Na arte também não há ciência, reservando-se esta atividade exclusivamente para os artistas. Quanto aos escritores, são recrutados geralmente entre os intelectuais. É, enfim, o país do futuro, sendo que este se aproxima a cada dia que passa.


sexta-feira, 12 de julho de 2013

Aproveitando que Graciliano Ramos é o homenageado do ano:

Cartaz do filme (1963)
É tarefa árdua, pra não dizem ingrata, adaptar uma importante obra da literatura para o cinema. É praxe ouvirmos "o filme deixa a desejar, o livro é muito melhor". Claro que a comparação entre livro e filme acaba sendo desleal, mas no caso de Vidas Secas tanto o romance quanto a versão para cinema são consideradas grandes clássicos da produção cultural brasileira.

Uma família caminha aparentemente sem destino pelo sertão do nordeste. É assim que podemos resumir, a grosso modo, uma saga chamada Vidas secas. No filme, assim como no livro, quase não há diálogo entre Fabiano, sinhá Vitória, o menino mais velho e o menino mais novo (sim, estes dois personagens não têm nome). Pobres, ignorantes e famintos eles procuram um lugar onde possam viver com dignidade. Antes que pensem que esqueci, lembro a importância do animal de estimação da família, a cachorra Baleia. Há quem diga que ela é a protagonista da história. Baleia personifica a incapacidade de se comunicar dos personagens humanos do romance. Trata-se de uma história de luta e esperança fadadas ao fracasso.  É exatamente isso que o filme consegue transmitir com admirável sensibilidade. Por isso este post existe, por isso eis o filme logo abaixo na íntegra.


 
Dirigido por Nelson Pereira dos Santos, o longa participou do Festival de Cannes em 1964 recebendo o Prêmio do OCIC e o prêmio dos cinemas de arte e foi indicado à Palma de Ouro. Já na resenha de Cinema de Gênova (1965) foi considerado o melhor filme do ano.

Sobre o escritor

Graciliano Ramos nasceu em 1892, na cidade de Quebrangulo, Alagoas. Começou como jornalista e em 1933 lança seu primeiro romance, Caetés. Em 1936 é preso em Maceió sob alegação de ser comunista. Anos mais tarde, realmente se junta ao Partido Comunista, a convite de Luís Carlos Prestes. Entre suas principais obras estão São Bernardo (1934), Angústia (1936) e o póstumo Memórias do cárcere (1953). O escritor teve oito filhos e morreu no dia 20 de março de 1953 no Rio de Janeiro vítima de câncer de pulmão aos 60 anos de idade.

"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."







quarta-feira, 10 de julho de 2013

Há 7 anos: Syd Barret is dead


Syd nos anos 60

 Em julho de 2006 Willian Waack noticiava  no Jornal da Globo: "Morreu Syd Barrett". A surpresa deste anúncio está no fato de que há mais de 30 anos não se ouvia falar no nome do fundador do Pink Floyd. Muitos nem sabiam que ele ainda estava vivo. Mas estava. Afastado de tudo e de todos Barrett permanecia em reclusão autoimposta na casa da mãe em Cambridge, Inglaterra. Lá dedicou-se à pintura e jardinagem.

Em resumo, Syd fundou o Pink Floyd, deu nome à banda, gravou apenas dois discos com o grupo e os deixou em 1968. A saída do Pink Floyd acontece em função de sua deterioração mental, muito provavelmente, por causa do uso exagerado de drogas. Os demais integrantes da banda simplesmente não sabiam como lidar com o problema de Syd. De inicio ignoraram. Depois, quando Syd demonstrou piora severa e passou a prejudicar as atividades do grupo, ele foi substituído gradualmente por David Gilmour. 

No documentário The Pink Floyd And Syd Barrett Story  (2003) os integrantes remanescentes do Floyd contam o seguinte sobre uma das "crises" de Syd: "Me lembro que uma vez na sala Fillmore West. Syd subiu ao palco, e ficou olhando fixamente o vazio, desafinou todas as cordas de sua guitarra, e em seguida tocou algo que soou horrível e pensamos: O que vamos fazer? Pessoalmente,  não lembro de ter sentido muita compaixão por ele. O comportamento de Syd era tão imprevisível que encurtamos a turnê".
"David Gilmour não o via há meses. Syd era outra pessoa. Não me reconheceu à primeira vista, me olhou sem me ver e tinha, como Roger disse muito acertadamente, buracos negros em vez de olhos".
Depois destes e outros incidentes Berrett se recusa a passar por tratamento e a banda resolve continuar os shows sem ele. Daí em diante Syd segue em carreira solo e lança dois bons discos The Madcap Laughs (1970) e Barrett (1971). Os trabalhos receberam o rótulo de "folk psicodélico". Em 1973 ele retorna à casa da mãe e nunca mais faz aparições públicas. O que se tem desse período são almas fotos raras e uma visita que fez ao estúdio onde o Pink Floyd gravava Wish You Were Here (1975). Os membros da banda viram um sujeito careca de sobrancelhas raspadas pensando mais de 110 quilos e perguntaram: Quem é esse? É o Syd, diz alguém. Instantaneamente todos começam a chorar. Ele esta irreconhecivel, lembra Roger Waters, só os olhos eram os mesmos. 
Syd Barrett morreu dia 7 de julho de 2006, por complicações de diabetes.

Barrett nos anos 2000
Algumas obras:




Mulheres por Henry Chinask

L&PM Pocket, 2011, Porto Alegre - RS


Ele atravessa madrugadas martelando sua máquina de escrever pra ganhar a vida. Estas longas horas são regadas a álcool e música clássica. No dias de ócio, nosso herói , o cinquentão Henry Chinaski, procura um grande amor. Mas pra isso vai ter que "testar" as mais variadas opções que a fama recente lhe oferece: Lydia, April, Lilly, Dee Dee, Mindy, Hilda, Cassie, Sara, Valerie, vindas de todas as partes do mundo e prontas pra terem seus corações dilacerados. Este é o resumo do terceiro romance de Charles Bukowski, Mulheres (1973). 
Para não fugir à regra, Bukowski nos apresenta uma escrita objetiva, algumas vezes melancólica, engraçada, obscena. Relatos crus e diretos sobre o ato sexual, diálos quase mono-silábicos e reflexões bêbadas é o que sintetiza a saga de Chinaski. Mas não se engane, Mulheres é muito mais do que um escritor underground em ascensão que sai por aí comendo todas, as entrelinhas nos mostram segredos e dicas do "velho safado". Quais são? Boa leitura.

Reflexão



Jamais sairá no jornal

percorro página e páginas
elas nunca dizem nada
parecem estar em branco
ontem um cara degolou duas garotinhas
pro jornal, é só estatística e uma nota mal feita
eles são contra a sensibilidade,
contra qualquer forma de beleza
"o leitor não pode parar pra pensar"
o leitor TEM QUE PARA PRA PENSAR
os tolos estão vencendo