quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Ask The Dust


Adicionar legenda
Arturo Bandini é um jovem pobre filho de italianos que quer ser escritor, para isso deixa a casa dos pais no Colorado e se muda para Los Angeles, onde aluga um quarto barato e empoeirado que personifica a situação deprimente em que se encontra nosso protagonista. Ao gastar sua ultima moeda com um café no Columbia Buffet, Arturo conhece Camilla Lopez, uma bela garçonete mexicana que é tão transtornada quanto ele. É em torno disso que desenvolve a narrativa, Bandini escreve e envia todo seu material para o editor J.C Hackmuth que publica alguns contos e assim rende trocados que garantem a sobrevivência do futuro grande escritor.
Pergunte ao pó é um livro desesperadamente bem humorado, o protagonista mal tem dinheiro para comer e mesmo assim sustenta uma arrogância, mas ao mesmo tempo admite ser inexperiente e busca conselhos de Hackmuth.
Arturo Bandini fala sozinho, tem sonhos e devaneios, sempre imaginando seu nome nos jornais e nas bibliotecas ao lado de grandes nomes da literatura americana como Willian Faulkner.

"Eu tinha vinte anos na época. Que diabo, eu dizia, não se apresse, Bandini.
Você tem dez anos para escrever um livro, vá com calma, saia e aprenda
sobre a vida, caminhe pelas ruas. Este é o seu problema: sua ignorância da
vida. Ora, meu Deus, rapaz, você percebe que nunca teve uma experiência
com uma mulher? Oh sim, eu tive, oh sim, tive bastante. Oh não, você não
teve. Precisa de uma mulher, precisa de um banho, precisa de um bom
empurrão, precisa de dinheiro. Dizem que é um dólar, dois dólares nos
lugares chiques, mas na Plaza é um dólar; maravilha, mas você não tem um
dólar e outra coisa, seu covarde, ainda que tivesse um dólar não iria,
porque teve uma chance, certa vez em Denver, e não foi. Não, seu covarde,
teve medo, e ainda tem medo, e está feliz por não ter um dólar.
Com medo de uma mulher! Ah, grande escritor este aqui! Como
pode escrever sobre mulheres se nunca teve uma mulher? Ora, seu
miserável farsante, seu mentiroso, não admira que não consiga escrever!
Não admira que não houvesse uma mulher em O cachorrinho riu. Não
admira que não fosse uma história de amor, seu tolo, seu escolar boboca.
Escrever uma história de amor, aprender sobre a vida."

O livro tem toques de autobiografia, já que o autor, John Fante, viveu uma realidade parecida também em Los Angeles. Fante foi uma grande influencia para Charles Bukowski que, em umas das edições de Pergunte ao Pó, escreveu o seguinte prefácio:

Eu era um jovem, passando fome, bebendo e tentando ser escritor. Fazia a maior parte das minhas leituras na Biblioteca Pública de Los Angeles, no centro da cidade, e nada do que eu lia tinha a ver comigo ou com as ruas ou com as pessoas que me cercavam. Parecia que todo mundo estava fazendo jogos de palavras, que aqueles que não diziam quase nada eram considerados excelentes escritores. O que escreviam era uma mistura de sutileza, técnica e forma, e era lido, ensinado, ingerido e passado adiante.
Era uma tramóia confortável, uma Cultura-de-Palavra muito elegante e cuidadosa. Era preciso voltar aos escritores russos pré-Revolução para se encontrar alguma aventura, alguma paixão. Havia exceções, mas estas exceções eram tão poucas que a leitura delas era feita rapidamente, e você ficava a olhar para fileiras e fileiras de livros extremamente chatos com séculos para se recorrer, com todas as suas vantagens, os modernos não chegavam a ser muito bons. Eu tirava livro após livro das estantes. Por que ninguém dizia algo? Por que ninguém gritava? Tentei outras salas na biblioteca. A seção de religião era apenas um vasto pantanal... para mim. Entrei na de filosofia. Encontrei alguns alemães amargos que me animaram por algum tempo, depois passou. Tentei matemática, mas a alta matemática era exatamente como a religião: me escapava. O que eu precisava parecia estarausente por toda a parte. Tentei geologia e a achei curiosa, mas, no fim, não sustentável. Encontrei alguns livros sobre cirurgia e gostei deles: as palavras eram novas e as ilustrações maravilhosas. Apreciei e memorizei particularmente a operação do cólon.
Então larguei a cirurgia e voltei à grande sala dos escritores de romances e de contos (quando havia suficiente vinho barato para beber eununca ia à biblioteca). Uma biblioteca era um bom lugar para se estar quando você não tinha nada para comer ou beber e a senhoria estava à procura de você e do aluguel atrasado. Na biblioteca, pelo menos, você podia usar os toaletes. Eu via um bom número de outros vagabundos ali, a maioria dormindo sobre os livros. Eu continuava ando voltas na grande sala, tirando livros das estantes, lendo algumas linhas, algumas páginas, e depois os colocando de volta. Então, um dia, puxei um livro e o abri, e lá estava. Fiquei parado de pé por um momento, lendo. Como um homem que encontrara ouro no lixão da cidade, levei o livro para uma mesa. As linhas rolavam facilmente através da página, havia um fluxo. Cada linha tinha sua própria energia e era seguida por outra como ela. A própria substância de cada linha dava uma forma à página, uma sensação de algo entalhado ali. E aqui, finalmente, estava um homem que não tinha medo da emoção. O humor e a dor entrelaçados a uma soberba simplicidade. O começo daquele livro foi um milagre arrebatador e enorme para mim. Eu tinha um cartão da biblioteca. Tomei o livro emprestado, levei-o ao meu quarto, subi à minha cama e o li, e sabia, muito antes de terminar, que aqui estava um homem que havia desenvolvido uma maneira peculiar de escrever. O livro era Pergunte ao pó e o autor era John Fante. Ele se tornaria uma influência no meu modo de escrever para a vida toda. Terminei Pergunte ao pó e procurei outros livros de Fante na biblioteca. Encontrei dois: Dago Red e Espere a primavera, Bandini. Eram da mesma ordem, escritos das entranhas e do coração. Sim, Fante causou um importante efeito sobre mim. Não muito depois de ler esses livros, comecei a viver com uma mulher.
Era uma bêbada pior do que eu e tínhamos discussões violentas, e freqüentemente eu berrava para ela: "Não me chame de filho da puta! Eu sou Bandini, Arturo Bandini!" Fante foi meu deus e eu sabia que os deuses deviam ser deixados sem paz, à gente não batia nas suas portas. No entanto, eu gostava de adivinhar onde ele teria morado em Angel's Flight e achava possível que ainda morasse lá. Quase todo dia eu passava por lá e pensava: é esta a janela pela qual Camilla se arrastou? E é aquela a porta do hotel? É aquele o saguão? Nunca fiquei sabendo. Trinta e nove anos depois, reli Pergunte ao pó.Vale dizer, eu o reli neste ano e ele ainda está de pé, como as outras obras de Fante, mas esta é a minha favorita, porque foi minha primeira descoberta da mágica. Existem outros livros além de Dago Red e Espere a primavera, Bandini. São Full of Life e The Brotherhood of the Grape. E, neste momento, Fante tem um romance em andamento, Sonhos de Bunker Hill.
Por meio de outras circunstâncias, finalmente conheci o autor este ano. Existe muito mais na história de John Fante. É uma história de uma terrível sorte e de um terrível destino e de uma rara coragem natural. Algum dia será contada, mas acho que ele não quer que eu a conte aqui.
Mas deixem-me dizer que o jeito de suas palavras e o jeito do seu jeito são o mesmo: forte, bom e caloroso. E basta. Agora este livro é seu.
Charles Bukowski 05/06/1979

Virou filme em 2006, tem Colin Farrell, Salma Hayek e foi produzido por Tom Cruise.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ritual: Whitte Lies

Universal - 2011

01 - Is Love
02 - Strangers
03 - Bigger Than Us
04 - Peace & Quiet
05 - Streetlights
06 - Holy Ghost
07 - Turn The Bells
08 - The Power & The Glory
09 - Bad Love
10 - Come Down

Já que os ingleses do White Lies tocam aqui no Brasil no próximo dia 05 dentro do Festival Planeta Terra 2011, vamos aproveitar e saber o que a banda nos oferece em seu segundo disco, Ritual (2011).

Eles fazem um rock alternativo soturno, com efeitos de sintetizadores e, dizem a más línguas, que o White Lies é a “versão” ou a “resposta” inglesa aos americanos do Interpol, é difícil concordar com isso, mas uma coisa é fato, a principal influencia da banda chama-se Joy Division.
Sim, Harry McVeigh cantor/guitarrista do White Lies também tem voz grave e carregada de melancolia, assim como Ian Curtis (Joy Division). A faixa Is Love traz tudo isso, porém, seu ritmo é um pouco acelerado e com muitos efeitos eletrônicos, ela quase a torna-se uma canção alegre, mas logo na seqüência Strangers joga um balde de água fria nos animadinhos de plantão, aqui a fórmula se repete, mas com maior força melódica. Bigger Than Us é o primeiro single do disco e pode ser considerado o maior hit da banda até aqui, porque tem um refrão pegajoso e o vídeo foi exibido regularmente pela MTV. Turn the Bells é a mais soturna do álbum, trás uma bateria obscura que logo é aliviada pela faixa seguinte, The Power & the Glory, pelo nome os senhores já percebem que se trata de uma música uma pouco mais otimista, e é exatamente assim. De um modo geral é essa a pegada de Ritual, alterna canções regulares e boas, mas sempre com a mesma fórmula, músicas melódicas, voz grave, melancolica, letras poéticas, ou seja, essa é definitivamente para quem gosta de Joy Division.





terça-feira, 4 de outubro de 2011

"A única conclusão é morrer"

Lisboa Revisitada (l923)
Álvaro de Campos

NÃO: Não quero nada.

Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!