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Lançado no Brasil pela editora Rocco em 2005 |
Trata-se da continuação de Trainspotting (1993). Dez anos depois Sick Boy volta para Edimburgo e decide montar uma produtora de filmes pornográficos, para isso, precisa da ajuda de seus velhos amigos. Pornô é explicito, excitante e às vezes até sarcasticamente bem humorado. Desta vez a narrativa se desenvolve em torno de cinco personagens, cada um com sua linguagem e perspectiva diferentes. São eles:
Sick Boy – Agora com 36 anos ele reforça sua visão empreendedora do mundo. Tem vocabulário acido, é preconceituoso, arrogante e praticamente um aspirador de pó quando o assunto é cocaína. A ideia é causar impacto na indústria pornográfica e levar seu primeiro filme para o festival de Cannes. Sick Boy assina como diretor do longa.
Nikki – É uma belíssima universitária de 25 anos. Tem obsessão em se tornar famosa, mas por enquanto trabalha batendo punhetas para velhos pervertidos em uma “sauna” no turno da noite. A garota é do tipo decidida, tem personalidade forte, é muito inteligente e maconheira. Ao conhecer Sick Boy é convidada para ser a estrela e roteirista do filme.
Mark Reton – Fugiu para Amsterdã onde é dono de uma boate. Lá, reencontra Sick Boy por acaso e recebe um convite para voltar á Edimburgo e ajudar na arrecadação de capital para o filme. Renton aceita, mas com muito receio já que seu inimigo número um está prestes a sair da prisão.
Francis Begbie – É um lunático extremamente violento e paranóico. Ele sai da cadeia em breve e só pensa em duas coisas: Descolar uma boa fóda e matar Mark Renton.Aqui é interessante a linguagem que Irvine Welsh usa, coloquial e cheia de gírias, procurando entrar na mente de um sujeito transtornado.
Spud – Agora frequenta reuniões dos narcóticos anônimos, tem um filho e esta escrevendo um livro sobre a história de seu bairro. Continua inocente e fazendo cagadas. Destaque para o capitulo em que ele e outro personagem fodem uma mulher drogada e suja de merda.
Trechos:
Capítulo 31: ". . . uma nádega decepada. . ."
Nosso apartamento em Tollcross está funcionando como uma fábrica.Baseados de haxixe e xícaras de café são consumidos um atrás do outro. Eu (Nikki) e o Rab estamos trabalhando no roteiro. A Dianne está perto da gente, concentrada nas anotações para sua dissertação e se divertindo com as risadinhas que damos enquanto digitamos lado a lado no processador de texto. Ela espia a tela de vez enquanto, solta rúidos de aprovação e ás vezes dá sugestões valiosas. Mais no canto, a Lauren, que também está fazendo um trabalho de faculdade, fica tentando nos constranger a seguir o exemplo dela e dar atenção aos estudos. Apesar de obviamente intrigada, se recusa a ver nosso roteiro. Eu e Rab ficamos provocando ela, sussurrando coisas como "boquete" e "no cu" e abafando risinhos, enquanto a Lauren fica cada vez mais vermelha e murmura "Fellini" ou "Powell e Pressburger". A Dianne acaba desistindo e recolhe as coisas dela. - Vou embora, não dá pra suportar - diz.
A Lauren nos olha indignada. - Eles estão incomodando você também?
- Não - responde a Dianne, desconsolada - é que cada vez que dou uma espiada fico excitada.Se escutarem um barulho de motor e gemidos vindos do meu quarto, já sabem o que estou fazendo.
A Lauren faz uma cara zangada, mordendo a lábio inferior. Se está incomodando tanto assim, por que ela não vai para o quarto dela? Quando finalmente terminamos o primeiro rascunho de cerca de sessenta páginas e o imprimimos, ela não consegue mais deter a curiosidade e se aproxima. Lê o título e va apertando a botão de descer a página, acumulando incredulidade r aversão à medida que lâ. - Isso é horrível. . . é nojento. . . é obsceno. . . e de um jeito que não é nem engraçado. Não há mérito de qualquer tipo aqui.É lixo! Não acredito que foram capazes de escrever uma imundície tão degradante e abusiva. . . - borbulha. - E você planeja praticar isso tudo com pessoas, com desconhecidos, vai deixar que façam essas coisas com você!
Me sinto quase na obrigação de dizer farei tudo exeto anal, mas e vez disso reajo com soberba, respondendo com uma citação que havia memorizado para uma ocasião dessas.- Adoraria saber o que é pior: ser violentada por uma centena de vezes por piratas, ter uma nádega decepada, ser linchada por búlgaros, chicoteada e enforcada em uma auto-da-fé, dissecada, acorrentada ao remo de uma galera; em suma, sofrer todos os suplícios pelos quais passamos - olho para o Rab, que diz em coro comigo - ou ficar aqui sem fazer nada?
A Lauren sacode a cabeça. - Que besteira é essa agora?
O Rab se mete. - Isso é Voltaire, do Cândido - explica.- Me surpreende que não saiba disso, Lauren - diz para nossa garota, que treme nervosa e acende um cigarro. - O que foi que o Cândido respondeu? - O Rab aponta o dedo para mim e declaramos juntos: - Essa é uma ótima pergunta!
Capítulo 76: Putas de Amsterdã, parte 11
Então escuto uma voz conhecida que me racha ao meio.Com uma força de vontade lancinante, olho para o outro lado da rua em sua direção.
Begbie.
Gritando no celular.
Então ele me enxerga e fica parado, com a boca aberta, bem em frente ao Central Bar. Está paralisado pelo choque. Nós dois estamos.
Então ele fecha bruscamente o telefone e ruge:
RENNTOOON ! ! !
Meu sangue gela.Tudo qe consigo enxergar é Frank Begbie atravessando a rua bem correndo bem na minha direção, com o rosto contorcido de raiva. É como se ele fosse passar reto por mim e acabar com a raça de algum outro coitado, porque ele não me conhece mais, não tenho mai nada haver com ele.Mas sei que é a mim que ele quer, e a coisa vai ser bem feia. Eu devia sair correndo, mas não consigo. Naqueles poucos segundos, minha vida se estilhaçou em milhões de pensamentos. Percebo como e inútil a ridícula a minha pretensa habilidade com artes marciais.Todos aqueles treinos e aquela prática não vão fazer diferença alguma, a expressão no rosto dele põe tudo isso por água abaixo.Não consigo abstrair nada, porque uma antiga ladainhs da minha infâcia se repete sem cessar no interior da minha cabeça: Begbie = Maldade = Medo. Minha capacidade de ação está totalmente paralisada. Aquelas partes de mim antecipam a simples adoção da postura
wado ryu, bloqueando seu golpe, enterrando seu nariiz pra dentro de seu célebro com a palma da minha mão uo me desviando de sua investida e aplicando um cotovelaço em sua têmpora, sim, elas ainda estão presentes.Mas são impulsos débeis, facilmente soterrados pelo medo massacrante de não ser páreo pra ele.
Begbie está vindo bem para cima de mim e não posso fazer nada e esse respeito.
Não posso gritar.
Não posso implorar.
Não há nada que eu possa fazer.
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Irvine Welsh |