Cartaz do filme (1963) |
Uma família caminha aparentemente sem destino pelo
sertão do nordeste. É assim que podemos resumir, a grosso modo, uma saga
chamada Vidas secas. No filme, assim como no livro, quase não há diálogo entre
Fabiano, sinhá Vitória, o menino mais velho e o menino mais novo (sim, estes dois personagens não têm nome). Pobres, ignorantes e famintos eles
procuram um lugar onde possam viver com dignidade. Antes que pensem que
esqueci, lembro a importância do animal de estimação da família, a
cachorra Baleia. Há quem diga que ela é a protagonista da história. Baleia personifica
a incapacidade de se comunicar dos personagens humanos do romance. Trata-se de
uma história de luta e esperança fadadas ao fracasso. É exatamente isso que o filme consegue
transmitir com admirável sensibilidade. Por isso este post existe, por isso eis
o filme logo abaixo na íntegra.
Dirigido por Nelson Pereira
dos Santos, o longa participou do Festival de Cannes em 1964 recebendo o
Prêmio do OCIC e o prêmio dos cinemas de arte e foi indicado à Palma de
Ouro. Já na resenha de Cinema de Gênova (1965) foi considerado o melhor
filme do ano.
Graciliano Ramos nasceu em 1892, na cidade de
Quebrangulo, Alagoas. Começou como jornalista e em 1933 lança seu primeiro
romance, Caetés. Em 1936 é preso em Maceió sob alegação de ser comunista. Anos
mais tarde, realmente se junta ao Partido Comunista, a convite de Luís Carlos
Prestes. Entre suas principais obras estão São Bernardo (1934), Angústia (1936)
e o póstumo Memórias do cárcere (1953). O escritor teve oito filhos e morreu no
dia 20 de março de 1953 no Rio de Janeiro vítima de câncer de pulmão aos 60 anos de idade.
"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem
seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja
na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente,
voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o
pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra,
torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de
feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no
varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma
coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a
palavra foi feita para dizer."
Um comentário:
Excelente postagem!
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