sexta-feira, 12 de julho de 2013

Aproveitando que Graciliano Ramos é o homenageado do ano:

Cartaz do filme (1963)
É tarefa árdua, pra não dizem ingrata, adaptar uma importante obra da literatura para o cinema. É praxe ouvirmos "o filme deixa a desejar, o livro é muito melhor". Claro que a comparação entre livro e filme acaba sendo desleal, mas no caso de Vidas Secas tanto o romance quanto a versão para cinema são consideradas grandes clássicos da produção cultural brasileira.

Uma família caminha aparentemente sem destino pelo sertão do nordeste. É assim que podemos resumir, a grosso modo, uma saga chamada Vidas secas. No filme, assim como no livro, quase não há diálogo entre Fabiano, sinhá Vitória, o menino mais velho e o menino mais novo (sim, estes dois personagens não têm nome). Pobres, ignorantes e famintos eles procuram um lugar onde possam viver com dignidade. Antes que pensem que esqueci, lembro a importância do animal de estimação da família, a cachorra Baleia. Há quem diga que ela é a protagonista da história. Baleia personifica a incapacidade de se comunicar dos personagens humanos do romance. Trata-se de uma história de luta e esperança fadadas ao fracasso.  É exatamente isso que o filme consegue transmitir com admirável sensibilidade. Por isso este post existe, por isso eis o filme logo abaixo na íntegra.


 
Dirigido por Nelson Pereira dos Santos, o longa participou do Festival de Cannes em 1964 recebendo o Prêmio do OCIC e o prêmio dos cinemas de arte e foi indicado à Palma de Ouro. Já na resenha de Cinema de Gênova (1965) foi considerado o melhor filme do ano.

Sobre o escritor

Graciliano Ramos nasceu em 1892, na cidade de Quebrangulo, Alagoas. Começou como jornalista e em 1933 lança seu primeiro romance, Caetés. Em 1936 é preso em Maceió sob alegação de ser comunista. Anos mais tarde, realmente se junta ao Partido Comunista, a convite de Luís Carlos Prestes. Entre suas principais obras estão São Bernardo (1934), Angústia (1936) e o póstumo Memórias do cárcere (1953). O escritor teve oito filhos e morreu no dia 20 de março de 1953 no Rio de Janeiro vítima de câncer de pulmão aos 60 anos de idade.

"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."







Um comentário:

Talita disse...

Excelente postagem!