sexta-feira, 10 de maio de 2013

Carta de Fitzgerald para Ernest Hemingway

Ernest Hemingway e F.S. Fitzgerald


                                                                                          8 de novembro de 1940

Caro Ernest:

É um romance excelente (Por quem os sinos dobram), melhor do que qualquer outro poderia escrever. Obrigado por pensar em mim e pela sua dedicatória. Li o romance com interesse intenso, participando de uma porção dos problemas da redação à medida que apareciam, e quase sempre totalmente incapaz de descobrir como você realizou alguns dos efeitos, mas você sempre conseguiu.

O massacre estava magnífico, e também a luta na montanha e a cena real da dinamitação. Das cenas secundárias, gostei particularmente da vinheta de Karkov e da sonata de Pilar para a morte - e senti um interesse pessoal pelo material da guerrilha de Moseby por causa de meu pai. A cena em que o pai diz adeus ao filho é muito poderosa. Vou ler tudo de novo.
Nunca cheguei tampouco a lhe dizer o quanto gostei de To Have and to Have Not. Há observações e escritas no texto que os rapazes estarão imitando com vingança - parágrafos e páginas que estão à altura de nossa intensidade concentrada.
Parabéns também pelo grande sucesso do seu novo livro. Invejo-o como o diabo, e não há ironia nisso. Sempre gostei de Dostoiévski com seu amplo mais do que de qualquer outro europeu - e invejo você pelo tempo que o romance lhe dará para fazer o que você quer.
                                                                                                                                    Com afeto antigo,

P.S. Encontrei por acaso um velho artigo de John Bishop sobre como você passou quatro dias deitado sob cadáveres em Caporetto e como eu sai de Princeton por ter sido reprovado (saí numa maca em novembro - niguém é reprovado em novembro). O que comecei a dizer era que ouvi realmente alguma coisa sobre você na frente italiana por meio de um homem que estava na sua unidade -  como você se arrastou por uma distância inferna puxando um homem ferido junto com você e como os médicos se debruçaram sobre você sem saber  porque que ainda estava vivo com tantas perfurações. Não se preocupe, não contar a ninguém. Nem mesmo a Allan Campbell, que me procurou e me deu notícias suas outro dia.
P.S. (2) Soube que você está se casando com uma das pessoas mais belas que já conheci. De-lhe as minhas lembranças.

Da coletânia CRACK-UP (L&PM, 2007) que reúne fragmentos autobiográficos de Fitzgerald.

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