Ernest Hemingway e F.S. Fitzgerald |
8 de novembro de 1940
Caro Ernest:
É um romance excelente (Por quem os sinos dobram), melhor do que qualquer outro
poderia escrever. Obrigado por pensar em mim e pela sua dedicatória. Li o
romance com interesse intenso, participando de uma porção dos problemas da
redação à medida que apareciam, e quase sempre totalmente incapaz de descobrir
como você realizou alguns dos efeitos, mas você sempre conseguiu.
O massacre estava magnífico, e também a luta na
montanha e a cena real da dinamitação. Das cenas secundárias, gostei
particularmente da vinheta de Karkov e da sonata de Pilar para a morte - e
senti um interesse pessoal pelo material da guerrilha de Moseby por causa de
meu pai. A cena em que o pai diz adeus ao filho é muito poderosa. Vou ler tudo
de novo.
Nunca cheguei tampouco a lhe dizer o quanto gostei de To
Have and to Have Not. Há observações e escritas no texto que os rapazes
estarão imitando com vingança - parágrafos e páginas que estão à altura de nossa
intensidade concentrada.
Parabéns também pelo grande sucesso do seu novo livro.
Invejo-o como o diabo, e não há ironia nisso. Sempre gostei de Dostoiévski com
seu amplo mais do que de qualquer outro europeu - e invejo você pelo tempo que
o romance lhe dará para fazer o que você quer.
Com afeto antigo,
P.S. Encontrei por acaso um velho artigo de John
Bishop sobre como você passou quatro dias deitado sob cadáveres em Caporetto e
como eu sai de Princeton por ter sido reprovado (saí numa maca em novembro -
niguém é reprovado em novembro). O que comecei a dizer era que ouvi realmente alguma
coisa sobre você na frente italiana por meio de um homem que estava na sua
unidade - como você se arrastou por uma
distância inferna puxando um homem ferido junto com você e como os médicos se
debruçaram sobre você sem saber porque
que ainda estava vivo com tantas perfurações. Não se preocupe, não contar a
ninguém. Nem mesmo a Allan Campbell, que me procurou e me deu notícias suas
outro dia.
P.S. (2) Soube que você está se casando com uma das
pessoas mais belas que já conheci. De-lhe as minhas lembranças.
Da coletânia CRACK-UP (L&PM, 2007) que reúne fragmentos autobiográficos de Fitzgerald.
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